A formação de valor na arte contemporânea

 

Com apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, via ProAC, o Ateliê397 realiza, nos dias 27, 28 e 31 de agosto, o seminário “A formação de valor na arte contemporânea”. Organizado por Tatiana Ferraz e Thais Rivitti, o seminário tem como objetivo reunir diversos agentes do circuito da arte contemporânea para juntos pensarmos sobre a noção de valor nas artes visuais. Em especial, os encontros irão investigar como as transformações no sistema das artes, de 1970 para cá, modificaram o panorama brasileiro com a entrada em cena de outros agentes e outros modos de circulação da obra de arte.

O mercado de arte vem tomando um espaço cada vez maior dentro do circuito artístico nacional e internacional. Nessa corrida, é preciso entender como se dão os mecanismos de valorização e precificação da arte, que atores operam nessa valoração, que papel as instituições exercem nessa conta, como os artistas se colocam diante deste cenário e quais as possibilidades de atuação da crítica na distinção de uma obra singular. Essas perguntas podem evitar a redução da noção de arte à de mercadoria. Ao enfrentarmos essas questões, deparamos com o problema da financeirização, cada vez maior no mercado global, sintoma que assola não só a arte, mas todas as instâncias da vida – cultural, social e política. A financeirização da cultura e, por extensão, da arte, é o cenário encontrado para se repor o problema da natureza do objeto artístico – como mercadoria e como patrimônio cultural. O horizonte da arte se coloca na dialética entre o público e o privado. Como lidar com estas duas instâncias de modo produtivo, fazendo com que uma alimente a outra, e vice versa?

O seminário será dividido em 4 mesas temáticas, que acontecerão nos dias 27, 28 e 31 de agosto. As mesas serão compostas por dois interlocutores e um debatedor e terão a mediação das organizadoras do evento.

 

Programação

27 de agosto, 14H
Mesa 1 – Arte: quem compra, o que compra e quanto paga?
Conversa com Ana Letícia Fialho, Elisio Yamada, Pedro Barbosa e Rubens Mano, com a mediação de Thais Rivitti.

A primeira mesa tem como objetivo traçar um panorama geral sobre o mercado de arte brasileiro. Embora muito se tenha avançado na coleta e análise de dados sobre o tema nos últimos anos, percebemos a necessidade de aprofundar o debate, ouvindo agentes que ocupam diferentes posições no mercado. Estão em pauta temas como o colecionismo no Brasil e os diferentes perfis de compra, as políticas públicas para aquisição de obras por instituições, o desempenho recente das galerias de arte no mercado nacional e internacional.

27 de agosto, 16H
Mesa 2 – O caráter “especial” da mercadoria arte
Conversa com Ilana Goldstein, Vera Pallamin, Vinicius Spricigo e Taisa Palhares, com a mediação de Tatiana Ferraz.

Para além dos rankings internacionais de precificação já conhecidos – como Artnet e ArtPrice – que, geralmente, lidam com os top 100 do artworld, a ideia aqui é entender quais são as variáveis que influenciam na formação do valor de um trabalho de arte. A medida em que o trabalho do artista é inserido na economia social, estabelece-se uma equivalência entre os valores propriamente estéticos e os valores econômicos. Tal passagem mobiliza diversos agentes culturais – instituições, museus, críticos de arte, curadores, historiadores, educadores, museólogos e especialistas da área em geral – que, junto com os negociantes de arte, formam redes complexas de circulação de capital econômico e simbólico em torno da produção artística. Assim, caberia examinar mais detidamente nessa mesa as forças e posições em jogo nessa rede complexa que resulta na atribuição de valor a uma determinada obra.

28 de agosto, 14H
Mesa 3 – Novas formas de agenciamento do trabalho de arte
Conversa com Julie Belfer, Mariana Lorenzi, Renata Castro E Silva, e Celso Fioravante, com a mediação de Thais Rivitti.

O crescimento do mercado de arte no Brasil nas últimas década é notável. A ele corresponde a entrada em cena de novos tipos de agenciamento de artistas e obras de arte. Essa mesa pretende discutir outros modelos de negócios, outras formas de circulação da produção artística e os novos espaços de exibição de trabalhos de arte. Ao lado da ampliação dos modelos tradicionais das galerias, dos leilões presenciais e também das feiras de arte, hoje temos espaços independentes autogeridos, galerias especializadas em determinados “nichos” (múltiplos, fotografia, gravura etc.), vendas feitas pela internet, novos dispositivos que ajudam a divulgar e vender – como o instagram e as redes sociais, entre inúmeros outros mecanismos relativamente recentes no Brasil. Como essas transformações modificam o sistema da arte no que diz respeito a possibilitar um maior trânsito do trabalho do artista e uma expansão no mercado de arte? É possível pensar que essas práticas novas contribuem para formar novos colecionadores e portanto ampliar o acesso à obra de arte?

31 de agosto, 20H
Mesa 4 – Como pensar um sistema da arte equilibrado?
Conversa com Regina Pinho, Tadeu Chiarelli, Thais Rivitti e Fabio Cypriano, com a mediação de Tatiana Ferraz.

Instituições, crítica de arte e mercado. Esse três pilares costumam estar em equilíbrio em países com um sistema artístico consolidado. Não é o caso do Brasil. O objetivo dessa mesa é analisar a quantas andam estas instâncias fundamentais no sistema brasileiro de arte, bem como discutir o que poderia ser feito – em termos de políticas públicas e de iniciativas privadas – para que todas elas fossem fortalecidas. Como se financia a pesquisa de arte no Brasil hoje? Quais os incentivos para os jovens artistas, curadores e críticos de arte? Quais as principais dificuldades de gestão enfrentadas no dia-a-dia de um museu? Como o dinheiro da compra e venda de trabalhos de arte poderia ser reinvestido na esfera da produção, alimentando e desenvolvendo todo o sistema da arte?

 

Participantes

Ana Letícia Fialho é Doutora em ciências da arte e da linguagem pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris (EHESS) e bacharel em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Atualmente é gerente executiva do Programa Cinema do Brasil e pesquisadora associada ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP). Com mais de quinze anos de experiência profissional nas áreas de ensino, pesquisa e gestão cultural, já atuou junto a organizações como a Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT), Base7, Fórum Permanente, Fundação Iberê Camargo, Fundação Bienal do Mercosul, Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Ministério da Cultura, SEBRAE,SENAC, SESC, entre outras. É co-autora do livro O valor da obra de arte (Metalivros, 2014).

Celso Fioravante é jornalista, idealizador e editor do periódico bimestral Mapa das Artes. Formado pela PUC-SP, trabalhou como redator, repórter, chefe de reportagem e editor-assistente do jornal Folha de S. Paulo entre 1990 e 2000, tendo se dedicado exclusivamente às artes plásticas a partir de 1996. Desde 1999 tem integrado vários júris de salões em cidades como Piracicaba (SP), Praia Grande (SP), Curitiba (PR), Goiânia (GO), Anápolis (GO), Belém (PA) e São Paulo (SP).

Elisio Yamada é sócio proprietário da Galeria PILAR. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. Atuou como produtor de exposições de arte entre 2001 a 2005, através de sua empresa Agenda Projetos Culturais. Entre 2005 a 2009 trabalhou no Acervo do Artista Sergio Camargo e como gerente de exposições no IAC/SP.

Fabio Cypriano é doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É crítico de arte da Folha de S. Paulo e coordenador do curso Arte: História, Crítica e Curadoria da PUC-SP, onde também  é professor em pós-graduação e graduação. É do conselho editorial da revistas ARTE! Brasileiros, e colaborador da The Art Newspaper (Inglaterra), Flash Art International (Itália) e Frieze (Inglaterra), e autor de “Histórias das Exposições, Casos Exemplares” (Educ, 2015) e “Pina Bausch” (Cosac Naify, 2005) entre outros.

Ilana Seltzer Goldstein é especialista em Direção de Projetos Culturais pela Universidade Paris 3 e doutora em Antropologia pela Unicamp. Foi coordenadora do MBA em Bens Culturais da Fundação Getúlio Vargas, de 2008 a 2014 e, atualmente, é professora de “Antropologia e Arte” e “Artes Ameríndias” no Departamento de História da Arte da Unifesp. Fundadora daProa – Revista de Antropologia e Arte, atuou também em algumas curadorias, sendo a mais recente “O Tempo dos Sonhos: arte indígena contemporânea da Austrália”, exposição que ficou em cartaz na Caixa Cultural de São Paulo, entre março e maio de 2016.

Julie Belfer nasceu na Holanda, formou-se em Artes Plásticas em Boston, atuou no Museu de Arte Moderna de São Paulo. É Consultora de Arte e atua como uma ponte entre arte e o público com foco em conteúdo, aproximação e responsabilidade. Atendeu, entre outros, o banqueiro David Rockefeller, o bailarino Mikhail Baryshnikov, o estilista Kenzo e o, na época, ministro da cultura Gilberto Gil. Tem um boletim que vai ao ar diariamente na rádio Jovem Pan, 620AM.

Mariana Lorenzi, 1983. Curadora e gestora cultural. Graduada em Comunicação Social pela FAAP e com Master em Arts Politics pela New York University. Trabalhou no departamento de comunicação do Centro da Cultura Judaica por três anos e estagiou no departamento de curadoria do MoMA e do New Museum, ambos em Nova York. Participou do projeto Laboratório Curatorial coordenado por Adriano Pedrosa, realizando a curadoria da exposição “O Corpo é o Meio” (2013). Foi cocuradora da exposição Frente à Euforia, que ficou em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade em 2015. Desde 2013 atua como uma das responsáveis pelo projeto da Casa do Povo, onde também é uma das coeditoras do jornal Nossa Voz. Atualmente é fellow no programa Critical Collaboration da NYU.

Pedro Barbosa é colecionador, membro do comité de aquisição para América Latina e Caribe do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MOMA), e membro do conselho social do Instituto de Arte Contemporânea (IAC). Integrou o conselho diretivo da Pinacoteca do Estado de São Paulo entre os anos 2011 e 2014, e o comitê de aquisição para América Latina da Tate Modern de 2010 a 2013. Foi diretor pro-bono da Fundação Bienal de São Paulo de 2009 a 2011.

Regina Pinho é fundadora do Instituto de Cultura Contemporânea ICCO. É colecionadora, integrante do Conselho do Museu de Arte de São Paulo (MASP), patrona da Pinacoteca do Estado de São Paulo, membro do Núcleo Contemporâneo do MAM/SP, e acionista do portal de cultura O Beijo.

Renata Castro e Silva é designer de formação. Trabalhou por 15 anos como diretora de arte e de criação. Em 2013, fundou, junto com Ana Serra, a Carbono, galeria focada exclusivamente em edições de arte contemporânea de artistas consolidados.

Rubens Mano
é artista visual, e mestre em Poéticas Visuais pela Escola de Comunicações e Artes/ USP. Foi contemplado com o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, em 2012; o edital Arte e Patrimônio do Ministério da Cultura/ IPHAN, em 2009, e a bolsa Cisneros Fontanals Art Foundation, em 2006. Dentre suas exposições individuais, destacam-se as realizadas na Galeria Millan (São Paulo), 2015; no Centro Cultural São Paulo (São Paulo), 2014; na Casa da Imagem (São Paulo), 2012; no Museu Nacional (Brasília), 2010; e no Projeto Octógono da Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo), 2008. Participou da 28ª e 25ª edição da Bienal de São Paulo, 2008 e 2002; do inSite, 2005; da 14ª Biennial of Sydney (Austrália), 2004; e de inúmeras coletivas no Brasil e no exterior, em instituições como o Museu di Arte Moderna e Contemporanea di Trento e Rovereto (Rovereto, Itália); o Centro Galego de Arte Contemporánea (Santiago de Compostela, Espanha); o Museum of Contemporary Art (Tóquio, Japão); o Henry Moore Institute (Leeds, Inglaterra); o Museu de Arte Moderna (São Paulo); e o Centre de la Photographie (Genebra).

Taisa Palhares é doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Professora de Estética no Departamento de Filosofia da UNICAMP.  É curadora e crítica de arte. Foi pesquisadora e curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo entre 2005 e 2015, onde foi responsável pelas exposições retrospectivas de Antonio Lizárraga, Paulo Monteiro e Mira Schendel, e organizadora dos catálogos “OOCO” de Nelson Felix e “Mira Schendel”, entre outros. Também organizou as mostras “Mira Schendel  – Monotypes” (Galeria Hauser & Wirth, Londres, 2015) e “Amilcar de Castro e Sergio Camargo: obras em madeira” (IAC, São Paulo, 2006), entre outras. É autora do livro “Aura: a crise da arte em Walter Benjamin” (Ed. Barracuda, Fapesp, 2006).  Foi co-idealizadora e co-editora da revista independente de crítica de arte contemporânea Número (http://www.forumpermanente.org/rede/numero).

Tadeu Chiarelli é diretor geral da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Atua como historiador, crítico e curador. É professor Doutor responsável pelas disciplinas “História da Arte no Brasil”, séculos XIX e XX junto ao departamento de Artes Plásticas da ECA-USP. Foi diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP, entre 2010 e 2014 e curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo entre 1996 e 2000.

Tatiana Ferraz é artista, arquiteta e pesquisadora. Professora de Escultura do Instituto de Artes da Universidade Federal de Uberlândia – UFU. É doutoranda do Programa de Pós-graduação em História e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo – FAU-USP desde 2014. Formou-se bacharel em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da UNESP (2000); mestre em História da Arte pela ECA-USP (2006); além de ter cursado Arquitetura e Urbanismo na Escola da Cidade (2002-2007). Como artista, desenvolve trabalhos na fronteira entre arte e arquitetura, com grande interesse sobre a cidade e o urbano. Paralelamente, atua na área de pesquisa e produção de conteúdos, colaborando com publicações especializadas em arte. A partir de 2014, vem pesquisando a relação entre arte contemporânea e mercado.

Thais Rivitti é curadora, crítica de arte e diretora do Ateliê397, espaço independente de arte em São Paulo. Trabalhou na curadoria do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2007) e na Pinacoteca do Estado de São Paulo (2008). Editou, pela Pinacoteca, os seguintes livros: “Beatriz Milhazes: pinturas, colagens” (2008); “Cristina Iglesias na Pinacoteca” (2008);“Leda Catunda” (2009); “Andy Warhol, Mr. America” (2010); “Carmela Gross, Um Corpo de ideias” (2011); “Antoni Muntadas, INFORMAÇÃO >> ESPAÇO >> CONTROLE” (2011); “Mônica Nador e Jamac” (2013). Foi curadora das exposições: “Faça Aqui”, de Ana Luiza Dias Batista (Ateliê397, 2015), “Praça da República”, de Rodrigo Andrade (Ateliê397, 2015) e “Tombo”, de Rodrigo Braga (Casa França Brasil, 2015), entre outras.

Vera Pallamin é professora livre-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), graduada em Arquitetura e Urbanismo e em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Conduziu pesquisas de pós-doutorado na University of California, Berkeley (EUA) e na Università degli Studi di Firenze (Itália), voltadas para a relação entre arte e esfera pública. Atua principalmente nos seguintes temas: cidade e cultura contemporânea, cultura urbana e espaço público, cidade contemporânea e arquitetura, arte e esfera pública. É autora de ‘Arte, cultura e cidade: aspectos estético-políticos contemporâneos’ (Annablume, 2015), Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana (Org., Estação Liberdade, 2002/2011), Arte urbana, São Paulo, região central (Annablume, 2000).

Vinicius Spricigo foi Curador associado ao Fórum Permanente: Museus de Arte; entre o público e o privado (2006-2008) e à Associação Cultural Videobrasil (para a realização da exposição Geopoéticas do artista Isaac Julien no SESC Pompéia, 2012). Realizou pesquisa de pós-doutorado junto ao Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia (CISC) da PUC/SP, no Interdisziplinäres Institut für Historische Anthropologie da Freie Universität Berlin (2012) e no programa Art dans la Mondialisation do Institut National de Histoire de l’Art (2013). Contribuiu, entre outros textos publicados, para os livros The Biennial Reader e German Art in São Paulo, ambos pela Hatje Cantz.