EROTX | Aurore Zachayus

AVISO A MNEMOSYL:

NÃO NOS REDUZIREMOS A SEU CATÁLOGO DE MEMÓRIAS, NEM CABEREMOS NO SEU PROJETO DE SUPRESSÃO DAS DIFERENÇAS!

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A VIDA NAS GRANDES CIDADES ASSUME uma nova conformação com o fenômeno da venda de memórias artificiais em larga escala. Entre as edificações genéricas de subjetividade que nos são ofertadas, a presença de um imperativo corretivo que se volta para o apaziguamento de tensões sociais, numa espécie de anestesia política, torna-se evidente. Onde quer que sua programação molecular se inocula, o pensamento se curva ao estado das coisas, inofensivo e indiferente.

Assim, é sintomático que, ao iniciar suas atividades, uma empresa como a Mnemosyl tenha se apropriado da imagem do Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci – uma representação gráfica do ideal clássico das proporções humanas – como referência visual. Ao estabelecer parâmetros de regulação da identidade pela manipulação da memória, seus coquetéis hormonais pretendem redesenhar, a partir de um repertório parco, a experiência humana.

No logo da multinacional farmacêutica, a figura do Homem dá lugar a um corpo liso e sem rosto, como se obliteradas as marcas de diferenciação que caracterizariam sua identidade. Trata-se de uma representação adequada para o apagamento massivo de memórias “conflituosas” ou “indesejáveis” em favor de repertórios genéricos de experiência, na forma de viagens turísticas e relacionamentos amorosos.

Com tal redução, tudo aquilo que advém da complexidade da percepção, do caráter reflexivo, da dimensão poética e das articulações políticas do pensamento – na vivência corporal dos acontecimentos – esmorece, fechando-nos às diferenças e ao imprevisto. Não à toa, o número de casos de sabotagem e de intervenções nos códigos de programação veiculados nestes produtos tem crescido significativamente, ainda que ignorados pelos grandes veículos midiáticos. Ações como estas são exemplares enquanto formas de resistência às estratégias normativas.

Sabemos que sob a égide do trabalho capitalista, a multiplicidade da experiência humana sofre constantes investidas colonizadoras pela lógica mercantil. Diante destas dinâmicas, faz-se necessário percorrer os interstícios por onde se propagam vetores desviantes, articular redes de pirataria, de distribuição, colaboração, trocas e experiências coletivas, de modo que a imaginação possa encontrar-se no real. Contra a asfixia do imaginário, devemos retomar a energia das práticas autonomistas e contrapor ao mapa das forças mercantis uma cartografia provisória e errante, que faça multiplicar as formas de vida para produzir outras memórias.

Assim, conclamamos:

ABAIXO A DOMESTICAÇÃO DA EXPERIÊNCIA!

 

 

EROTX

O Ateliê397, com apoio da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, via Proac, convida a todos para a exposição EROTX, da artista Aurore Zachayus, com curadoria de Yudi Rafael, como parte da programação do projeto Corredor397 – 2016.

Na ocasião da abertura, a convite da artista Aurore Zachayus, a Mnemosyl realizará um coquetel de lançamento do seu mais recente produto, o EROTX. Amostras gratuitas serão distribuídas durante o evento, mediante a assinatura de um termo de responsabilidade.

A mostra, que segue aberta para visitação até o dia 14 de julho, constitui-se então como reminiscência do evento, do espaço organizado para a produção da experiência e os vestígios do acontecimento.

Serviço:
Abertura: 15/06 a partir das 19h30
Visitação: 16/06 a 14/07 de 2016
Segunda a sexta-feira, das 14h às 19h.

Local: Ateliê397
Rua Wisard, 397 – Vila Madalena

Mais informações:
Tel: 3034-2132
atelie397.com

Programação gratuita.

 

NOTICE TO MNEMOSYL:

WE WILL NOT BE REDUCED TO YOUR CATALOG OF MEMORIES; NEITHER WILL WE FIT IN YOUR PROJECT TO SUPPRESS DIFFERENCES!

 

LIFE IN THE BIG CITIES TAKES a new shape as the sale of artificial memories is on the rise. Among the generic subjective constructions that are offered, the presence of an imperative concealer that turns to the appeasement of social tensions, in a kind of political anesthesia, becomes evident. Wherever its molecular programming is inoculated, the thought bows to the state of things, harmlessly and indifferently.

Thus, the fact that a company like Mnemosyl has appropriated the image of Leonardo da Vinci’s Vitruvian Man – a graphical representation of the classical ideal of human proportions – as a visual reference when starting its operations is suggestive. By setting standards to regulate identity through memory manipulation, its hormonal cocktails intend to redesign human experience based on a limited repertoire.

In the pharmaceutical multinational’s logo the figure of the Man gives way to a smooth and faceless body, as if the distinctive features that would characterize his identity have been obliterated. It is a proper representation for massive erasing of “conflicting” or “undesirable” memories in favor of generic repertoires of experience in the form of tours and love relationships.

As a result of such reduction, all that comes from the complexity of perception, reflective character, poetic dimension and political articulations of thought – in the bodily experience of events – fades away, making us turn a blind eye to the differences and the unexpected. No wonder the number of cases of sabotage and interventions in the programming codes conveyed in these products has grown significantly, although ignored by the mainstream media. Actions such as these are exemplary as forms of resistance to normative strategies.

We know that under the umbrella of capitalist work, the multiplicity of human experience is constantly under colonizing attack by the market logic. Given these dynamics, we must go down to the interstices where deviant vectors are propagated, articulate piracy, distribution and collaboration networks and exchanges and collective experiences, so that the imagination can be found in reality. Against the asphyxia of imagination, we must take the power of autonomist practices back and counteract the map of market forces by using a temporary, roving mapping, which multiplies life forms to produce other memories.

Therefore, we urge:

DOWN WITH THE DOMESTICATION OF EXPERIENCE!