Debate “Carajás hoje”

 

A exposição Onde o rio acaba, que abre no dia 8 de junho no Ateliê 397, tem o objetivo de mostrar, em São Paulo, um pouco da cena cultural do sudeste do estado do Pará. A mostra tem início com um debate sobre o contexto sociocultural da região de Marabá, marcado por disputas territoriais, violência, desrespeito aos direitos humanos, exploração e ataques ecológicos. Como o meio social interfere na produção simbólica de uma região? Como se articulam tradição e linguagem contemporânea? Que tipo de produção cultural é vista e reconhecida como arte nessa região? A experiência de artistas e outros agentes culturais de Marabá e arredores aponta para a necessidade de se rever a definição de obra de arte: a crueza do depoimentos de moradores e militantes assassinados, as contradições sociais extremas expostas em relatos e matérias jornalísticas, o desenho feito com esferográfica em papéis improvisados e a tentativa de elaborar o luto coletivo depois de um massacre patrocinado pelo Estado são exemplos de criações que transitam entre a denúncia social, a expressão subjetiva de indignação e a tentativa de elaboração simbólica das experiências. Com vistas a debater essas questões, organizamos um debate com a presença de pessoas que integraram o projeto Carajás Visuais: Entre Rios e Redes, proposta que originou a presente exposição. Questionando a ideia de mapeamento (muito em voga hoje quando se pensa em investigação da arte produzida em território nacional) que visa quantificar, tabular e esquadrinhar a produção brasileira, a proposta da curadoria de Camila Fialho e Thais Rivitti (Ateliê 397) foi a de mostrar aquilo que a produção cultural do sudeste do Pará tem de mais desconcertante, ou seja, aquilo que ela apresenta que é capaz de colocar em outras bases a reflexão contemporânea em arte: a impossibilidade de se referir à noção de obra de arte. Para as curadoras, “organizar uma exposição de arte que prescinda do conceito de obra foi o maior desafio dessa mostra. O que está disponível para o público não são necessariamente obras, mas sim objetos e materiais carregados de simbolismo, de desejos e de subjetividade.”

Camila Fialho é co-curadora da exposição “Onde o rio acaba”. Formada em Letras e Mestre em Literatura Francesa pela UFRGS, costuma aliar em suas pesquisas artes visuais e literatura. Tem especialização em Práticas Curatoriais e Gestão Cultural pela Faculdade Santa Marcelina (2011). Vive e trabalha em São Paulo como pesquisadora independente e curadora. É colaboradora do Ateliê 397 onde atua como curadora do projeto Michê, entre outros projetos do espaço.

Dan Baron é diretor de teatro comunitário e arte-educador do País de Gales residente no Brasil há mais de dez anos. Desenvolve em Marabá os projetos Rios de Encontro e Vozes do Campo, voltado à formação de jovens artistas, gestores, educadores e lideranças comunitárias, pelo Instituto Transformance. Coordenou, com Manoela Souza, em 1999, o processo de construção do Monumento das Castanheiras de Eldorado dos Carajás, elaborado em conjunto com as viúvas, os mutilados e outras vítimas do massacre de Eldorado de Carajás.

Deize Botelho é idealizadora e coordenadora geral do projeto Carajás Visuais: Entre Rios e Redes, do qual a exposição Onde o rio acaba faz parte. Gestora cultural, graduada em Serviço Social pela UCG/GO e pós-graduada em Métodos e Técnicas de Elaboração de Projetos Sociais pela PUC – Minas. Atualmente trabalha como diretora da Tallentus Amazônia, empresa especializada em produção cultural. É também coordenadora do Galpão das Artes de Marabá – GAM.

Conversas no Ateliê 397
8 de junho, às 16h
Carajás hoje
Relato sobre o contexto sociocultural e político da região de Carajás e o processo de articulação da presente exposição, com a participação de Camila Fialho (co-curadora), Deize Botelho (coordenadora do projeto Carajás Visuais: entre Rios e Redes e Dan Baron (Projeto Rios de Encontros).

10 de junho, às 20h
Conversa com os artistas Antonio Botelho, Marcone Moreira e Mauricio Adinolfi.