Sessão Corredor + Extras | Não Vamos Obedecer
Nou Pap Obeyi
{English below}
Por Daniel Lima
Edição: Élida Lima e Roberta Estrela D’Alva
Sendo convidado para a última sessão do projeto Sessão Corredor no Ateliê397, o artista Daniel Lima apresenta a pesquisa Nou Pap Obeyi no formato de um filme e uma cartografia.
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Esta história começa no Haiti, uma ilha que fica no Caribe. Haiti, primeira e única revolta escrava que toma o poder. Primeira nação livre da América. Primeira nação a abolir a escravidão. O Brasil foi o último país a abolir a escravidão na América.
O sinal para iniciar a revolta no Haiti foi dado por um alto sacerdote do vodu e líder dos quilombolas. Com o Vodu uma população sem medo. Nop Pap Obeyi: Não vamos obedecer aos Colombos, aos colonizadores.
Haiti se rebelou de dentro pra fora, debaixo para cima. Venceu as tropas de Napoleão. Em 1804, Dessalines, ex-escravo, declarou a independência. O medo das revoltas escravas se espalhou pela América. O haitianismo…
No Rio de Janeiro, na época a maior cidade negra fora da África, e futura capital do Império, o haitianismo aumentou o controle sobre os negros escravizados.
Soldados negros sem morada chegando do Massacre de Canudos sobem os morros, aos quais dão nome de favela. Em 1910, o morro da Providência é considerado o lugar mais perigoso da capital brasileira.
Neste mesmo período, os Estados Unidos invadem o Haiti, para “preservar seus interesses”. E ocupam militarmente até 1934. Depois apoiam as ditaduras sanguinárias de Papa Doc e Baby Doc que permancem por 30 anos no poder.
Em 1990 surge a esperança de democracia quando as primeiras eleições livres levam à presidência o padre Jean-Bertrand Aristide. Quando Aristide começa a questionar os acordos comerciais dos norte-americanos, ele é sequestrado e levado no meio da madrugada para África.
Em 2004, Brasil é convidado pela ONU a comandar a Minustah, missão pela paz e estabilização no Haiti. Passados 12 anos, as tropas da ONU permanecem no Haiti.
As tecnologias de controle em “combate urbano” são exportadas e c. Nas palavras do embaixador brasileiro: O Haiti é um laboratório de ocupação de favelas no Rio de Janeiro. Assim como no Haiti, no Brasil as favelas são ocupadas militarmente para impor o controle policial: arbitrário, violento e letal.
Em 2010 um terremoto matou mais de 200 mil pessoas no Haiti e milhares de haitianos migraram atravessando Panamá, Peru, Colômbia até chegar ao Brasil pelo Acre. As fronteiras do Haiti novamente ressoam nas Américas.
O Haiti vive hoje uma luta pela democracia. Há suspeitas de manipulação e fraude para eleições presidenciais realizadas pelo grupo de ocupação: Brasil, Canadá, França, Espanha, Estados Unidos e União Europeia. Em 2016, um levante popular contra essa manipulação resultou no cancelamento das eleições presidenciais.
Hoje e sempre o Haiti representa simbolicamente o ‘quilombo’, a resistência e luta. Todo camburão é um navio negreiro e toda periferia pode ser um quilombo urbano.
E aqui como lá, lutamos pela democracia. Nou pap obeyi! Não vamos obedecer!
Nou Pap Obeyi
By Daniel Lima
Edited by Élida Lima and Roberta Estrela D’Alva
Artist Daniel Lima was invited to the last session of Atelier 397’s Corridor project and presents his research, Nou Pap Obeyi in the form of a film and a map.
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This story begins in Haiti, an island in the Caribbean. Haiti, the first and only slave rebellion that has taken power. The Americas’ first free nation. First nation to abolish slavery. Brazil was the last country to abolish slavery in the Americas.
The signal for the rebellion to break out in Haiti was given by a high Vodou priest and leader of the Maroons. A fearless population arises with Vodou. Nop Pap Obeyi: we will not obey the Columbus, the colonizers.
Haiti rebelled from the inside out, from the bottom to the top. It defeated Napoleon’s troops. In 1804, Dessalines, a former slave, declared independence. The fear of slave rebellions spread across the Americas. The haitianismo [fear of a great slave revolt similar to that which broke out in the Caribbean]…
In Rio de Janeiro, the largest black city outside Africa back then and the Empire’s future capital city, haitianismo increased control over black slaves.
Homeless black soldiers arriving from the Canudos Massacre climb the hills, which they name favelas. In 1910, the hill of Providence is considered the most dangerous place in Brazil’s capital city.
In the same period, the United States invade Haiti to “protect their interests.” And they militarily occupy it until 1934. Then, they support the bloody dictatorships of Papa Doc and Baby Doc, who ruled for 30 years.
In 1990, the hope of democracy is raised as the first free elections are held and Father Jean-Bertrand Aristide is elected president. When Aristide begins to question the trade agreements with the US, he is kidnapped and taken to Africa in the middle of the night.
In 2004, Brazil was invited by the UN to head the MINUSTAH mission for peace and stability in Haiti. After 12 years, UN troops remain in Haiti.
Control technologies for “urban combat” are exported, and in the words of the Brazilian ambassador “Haiti is a slum occupation laboratory in Rio de Janeiro. As in Haiti, the Brazilian favelas are occupied by the military to enforce police control: arbitrary, violent, and lethal.
In 2010, an earthquake killed more than 200,000 people in Haiti and thousands of Haitians have migrated across Panama, Peru and Colombia to get to Brazil through Acre. Haitian borders echo in the Americas once again.
Haiti is currently experiencing a struggle for democracy. There are suspicions of manipulation and fraud in the presidential elections held by the occupation group: Brazil, Canada, France, Spain, the United States, and the European Union. In 2016, a popular uprising against this manipulation resulted in the presidential election being canceled.
Today and always Haiti symbolically represents the Maroons, resistance and struggle. Every police van is a slave ship and every ghetto may be an urban Maroon.
And here and there, we fight for democracy. Nou pap obeyi! We will not obey!