Sessão Corredor + Extras | Coisas de viado! Coisas de bichinha!

 

O Ateliê397 com apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, via ProAC, convida a todos para mais uma exibição do projeto Sessão Corredor + Extras, com a mostra Coisas de viado! Coisas de bichinha!

O programa elaborado pelo crítico e cine ativista francês Yann Beauvais, apresenta uma sessão de videos seguida por uma conversa, no dia 19 de agosto, a partir das 20h30.

Coisas de viado! Coisas de bichinha! traça a relação entre filmes experimentais e a cultura gay do Brasil, onde a prática de fazer cinema/vídeo se nota como um ato de resistência. A sessão apresenta uma gama variada de trabalhos realizados por artistas de diferentes gerações, que percorrem a historiografia do vídeo nacional com espaço para novas expressões, transitando entre o experimental e o novelesco.

 

Sobre o curador:

Yann Beauvais, trabalha com cinema experimental com uma vasta produção entre filmes e instalações. Foi curador e programador do Centro Americano(EUA) e Centro George Pompidou (FR). Criou a associação Light Cone, plataforma dedicado a difusão e conservação do cinema experimental, e do espaço autônomo BCúbico, voltado para a promoção vídeo na cidade do Recife(PE).

 

 

Programação Gratuita.

Serviço:

Sessão Corredor + Extras
Coisas de viado! Coisas de bichinha!
Dia 19 de agosto, sexta, às 20h30
Palestra com o curador após a sessão

Local: Ateliê397
Rua Wisard, 397 – Vila Madalena
Mais informações:
Tel: 3034-2132

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Sessão Corredor + Extras.

Criado pelo Ateliê397, o projeto abre espaço para curadorias de vídeo arte, onde a cada sessão apresenta ações que podem desdobra-se em falas, performances e mostra em diálogo com o contexto da mostra.

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Coisas de viado! Coisas de bichinhas!

yann beauvais

Parece que, no Brasil, assim como em muitos outros países, o campo da produção experimental no cinema tem sido desenvolvido por indivíduos que pensam estar, produzindo alternativas para o cinema comercial. A prática de cinema e/ou de vídeo se tornou-se um ato de resistência: a produção de, assim como uma forma de produzir imagens a partir de um espaço que foi, com frequência, proibido, censurado ou sequer mesmo concebido. A partir do uso das redes sociais, a produção cinematográfica se transformou, e foi incorporando outras maneiras de produzir imagens de si. Surgem imagens de pessoas que – até então, até que elas mesmas produzissem as imagens de si mesmas – não tinham representação: até que elas mesmas produzissem, seja os jovens da periferia, seja as pessoas trans entre outras.tc…

Fazer filme experimental nos anos 60 e 70 era uma forma de articular diferentes tipos de prática, dentre as quais a afirmação da subjetividade e do desejo ao lado da aproximação analítica ao aparato cinematográfico.  Hoje, fazer filmes é algo muito diferente. Isso se deve não apenas à circulação dirigida a um circuito privado, mas também pela abertura ao mundo por meio das redes sociais. Dessa maneira, as filmagens se difereciam das produções mais antigas pois pensam a si mesmas como atos de apresentação de si, lugar de presentificação imediatamente acessível. Entre a captação e a difusão potencial não há mais separação. Comentário, apropriação, imitação ou paródia de um evento ou de uma novela, por exemplo, são as formas prediletas do material digital produzido atualmente.

Se, para entender os filmes dos anos 70 aos 90, era últil lembrar -se da importância da produção cinematográfica feita por cineastas gays e lésbicas na história do cinema experimental, hoje, isso não é mais necessário., Aas regras do jogo se ampliaram com a democratização do acesso aos instrumentos de realização. A diferença formal entre os filmes desses dois períodos coresponde às diferenças geracionais que separam os produtores dessas imagens. Até os anos 80, a representação dos jovens era ainda controlada pelos pais. Nesses filmes, a divisão patriarcal está visível. Hoje, as crianças e os adolescentes se filmam para fugir do quadro familiar, para mostrar seu mundo a seus pares. É nesse sentido que encontramos uma similaridade com a vontade de filmar das gerações anteriores.

É interessante perceber que, embora o uso do celular para fazer selfie como um filme, seja recorrente em todos os países do mundo, nas periferias ele, talvez, seja ainda mais forte por causa da ausência de uma representação social positiva. Nas periferias, a cultura cinematográfica não vem do cinema, mas da televisão e da internet. As imagens do entorno e de seus habitantes são produzidas como uma forma de resistência às imagens ideologicamente fabricadas, desacreditando-as. As referências ampliaram-se, não se limitam às imagens produzidas pelas indústrias culturais americana ou europeia, mas de outros lugares, como da América Latina, da Àsia e África. Assim, não é mais a universalidade das referências que servem de paradigma, mas uma multidão de referências particulares, locais. A globalização gera uma pertubação nas maneiras de apreender o mundo, que não pode mais estabelecer-se, representar-se, unicamente com as imagens feitas pelos dominantes.

 


 

 Fagot stuff! Sissy stuff!

yann beauvais

It seems that in Brazil, like in many other countries, the field of experimental filmmaking has been developed by individuals who believe they are producing alternatives to commercial films. Film and/or video production has become an act of resistance: the production of, as well as a way of producing images from a space that was often banned, censored or not even conceived. From the use of social media, film production has been transformed and came to incorporate other ways of producing images of oneself. Images of people who had no representation so far until they had been able to produce images of themselves – including young people from impoverished suburbs, transsexuals and other groups – now come into play.

Experimental filmmaking in the 1960s and 1970s was a way to articulate two different types of practice, including the affirmation of subjectivity and desire, and the analytical approach to the cinematic apparatus. Today, making movies is a completely different thing. This is due not only to the movement directed at a private circuit, but also the openness to the world through social media. Thus, filming is different from older productions to the extent that it looks at itself as an act of presenting oneself, a place of an immediately accessible present. There is no longer a division between funding and potential broadcast. Comments on, appropriation, imitation or parody of an event or a soap opera, for instance, are the favorite forms of digital material currently produced.

If, in order to understand the movies from the 1970s to the 1990s, it was useful to remember the importance of the films produced by gay and lesbian filmmakers in the history of experimental films, this is no longer necessary today. The rules of the game have expanded as a result of improved access to filmmaking tools. The formal difference between the films from those two periods corresponds to the generational differences that separate the producers of these images. Until the 1980s, the representation of young people was still controlled by parents. The patriarchal division is clear on those films. Today, children and adolescents film themselves to escape the family environment, to show their world to their peers. In this regard, there is a similarity with the previous generations’ desire to shoot.

It is interesting to note that although the use of mobile phones to take a selfie as a movie is widespread in all countries of the world, in impoverished suburbs it is perhaps even stronger because of the absence of a positive social representation. In the impoverished suburbs, the film culture does not come from the movies, but rather from TV and the Internet. The images of the surroundings and their inhabitants are produced as a form of resistance to ideologically produced images, discrediting them. Currently, there is a large number of references, which are not limited to the images produced by American or European cultural industries; rather, they come from different places, such as Latin America, Asia, and Africa. Therefore, universal references are no longer a paradigm – a multitude of local, particular references are. Globalization creates a disturbance in the ways the world is understood, and the world can no longer be established and represented solely by the images produced by dominant players.

 


 

 

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