Redação de Férias
Neste verão, assim como nos últimos 13 anos, fui para Florianópolis. Sol, praia, filme, família, amigos, ostra, camarão, cerveja, pele vermelha, livro, novela, céu com estrelas, barco, pôr-do-sol e arte em dias de chuva: Individual de Claudio Trindade no BADESC, visita a editora Par(ent)esis e a exposição coletiva “Chifre coberto de carne” no Memorial Meyer Filho.
Tenho uma amiga crítica de arte que me disse que não visita exposição nas férias, pois querendo ou não é uma forma de trabalho. Bom, ela não deve ter muitos dias de férias por ano. Mas o que fazer em dias de chuva, em uma ilha rodeada de amigos artista, a não ser respirar arte? Tomar cerveja!
Sim, se tem uma atividade que o pessoal “das artes” sabe fazer é tomar uns bons drinks!Na Travessa Ratclif, praticamente a calçada da fama de Floripa, em uma mesa de bar com Kamilla Nunes, Ana Luisa Lima, Claudio Trindade, Mariana Fernandes e Denize Gonzaga, eis que surge nada mais nada menos que Irma Brown. Vinda diretamente de Recife, Irma é a única pessoa que conheço que fez uma festa com seu ex-marido, mais conhecido como Viadagem, para celebrar a separação do casal e o amor que continua mesmo depois do fim do matrimônio. Para quem não sabe, Viadagem e Irma são responsáveis por um dos espaços independentes de arte mais importantes de Recife; Mau Mau Galeria ou a casa onde eles viviam.
Voltando a Travessa, papo vai, cerveja vem, chuva cai, uns se dão mal outros se dão bem e Irma tira de sua bolsa uma “Nóia em conserva”, ou melhor, uma obra de arte. Segundo a descrição que acompanha o trabalho, “Nóia em conserva é um produto orgânico, 100% natural, desenvolvido por um cérebro confuso e atormentado. Indicado para quem tem mania de perseguição, é perfeccionista, tem toque, medo de avião, pânico de barata, ciúme, mania de limpeza, arrumação….enfim: nóias de todos os tipos, cores e tamanhos!”.
Infelizmente (ou felizmente), no momento em que Irma sacou o trabalho de sua bolsa eu não tinha dinheiro suficiente para a aquisição da obra. Contudo, sabia que momentos e oportunidades como estes não se repetem mais de uma vez na vida. Sem pensar duas vezes propus a Irma uma troca, que sem pensar nenhuma vez aceitou. Com um sorriso no rosto nos despedimos, eu levava na bolsa seu trabalho e ela o meu celular, minha grande nóia.
Fico surpresa pela troca que fizemos: um celular por um objeto de arte. Tive a impressão que as negociações da arte, até mesmo quando informais, se assemelham ao crime, pois não é de hoje que o mercado de arte é usado para lavar dinheiro. No caso da troca do celular pela nóia, pensei nos viciados que costumam trocar objetos eletrônicos por droga. No final, estamos sempre negociando uma forma de nos livramos dos problemas.
Duas semanas depois de ter me livrado daquela nóia, escrevo este texto para agradecer a Irma. Me sinto menos “noiada”sem a “nóia” do celular. Sabe quando escutamos o celular tocar, mesmo quando ele está desligado? Então, esta sensação faz parte do passado! Assim, como conclusão da história, gostaria de dizer a todos que crêem que arte não tem função que eles estão enganados, pois este trabalho funcionou mesmo e saiu mais barato do que terapia. Obrigada Irma!