Migrações

A exposição que Daniel Rubim mostra no Ateliê397, propõe uma relação entre os processos de migração e de importação. O trabalho tem início com a tentativa, por parte
do artista, de importar mil patos de borracha da China, onde foram fabricados, para o Brasil, colocando-os em exposição. Os patos de borracha, por sua vez, nos lembram os
patos reais que, conforme a espécie, migram em determinadas épocas do ano para outras regiões do planeta.

Os trânsitos naturais e os econômicos, assim, adquirem na exposição certa equivalência. As fotos procuram narrar – de forma real ou fictícia, cabe ao público decidir – a viagem
transoceânica dos patos de borracha. Para isso, há fotos de navios cargueiros, fotos do porto de Santos, de prédios como o da Receita Federal e o da Alfândega, Rodovias etc. Ao apresentar imagens que conseguem contar para o público o processo da migração / importação dos patos, o artista inventa uma forma de fazer palpável os processos imateriais, de natureza econômica, que
sempre aparecem no discurso de forma abstrata e genérica: como índices, taxas e estatísticas. A história construída não é uma fábula tradicional, dessas que entretem crianças como os patos de borracha podem sugerir, mas pode trazer a tona algumas reflexões para os adultos mais dispostos.

Em uma realidade cada vez mais mediada pelas interfaces eletrônicas – o “programa”, o “sistema” – em que as trocas (não apenas o comércio, mas até mesmo as trocas interpessoais) acontecem em espaços virtuais, a exposição traz para o concreto, a medida do possível, a abstração dos conceitos econômicos. Por trás de um clique em um site de compras na internet, escondem-se filas de navios, montes de containers, prédios administrativos com funcionários, expediente, atendimento ao público e até mesmo uma estrutura tão complexa quanto a de um porto. A aceleração do comércio, a abertura de fronteiras, a intensificação das importações e exportações (processo observado, no Brasil, pelo menos desde o governo Collor) pode dar a falsa impressão de que tudo isso acontece automaticamente, sem esforço e nem dificuldade. Os trabalhos de Daniel Rubim contam uma outra versão da história.
Ateliê 397