Lampejo – Leandro Costa

Leandro Costa  – Lampejo
(Ateliê397 – de 14/10/11, às 20h, a 02/12/11).

Os trabalhos apresentados por Leandro Costa na exposição “Lampejo”, realizada no Ateliê397, voltam a sua atenção, de modos diferentes, a instantes efêmeros e passageiros.
No trabalho especialmente realizado para o muro do Ateliê, o artista tira partido da altura da construção para desenhar ali um céu estrelado. Como a maioria dos trabalhos do artista, o desenho aparece como ferramenta que estrutura a obra. Mas não é qualquer desenho, e sim um desenho muito consciente de sua natureza projetual,  cuja comunicação com a as formas e marcas já existentes no espaço aparecem como elementos fundamentais. A grade formada pelas junções dos blocos de concreto que constituem o muro servem de base para a fixação dos pontos brancos, que representam as estrelas. Em meio a uma miríade de pontos, ele traça formas que, como nas constelações conhecidas, compõem figuras reconhecíveis. Neste caso, o toureiro salta por cima do touro, desviando assim do perigo. O triunfal salto do homem sobre o animal, entretanto, não aparece com absoluta clareza. Permanece sempre na eminência de perder-se na miríade de outras estrelas, tornando-se quase invisível, quase uma mancha qualquer. Cabe a quem está olhando observá-la, decifrá-la e, em alguma medida, nomeá-la.
Nos dois desenhos apresentados pelo artista na primeira sala expositiva, ambos da série Razão do Horizonte, de 2011, vemos uma imagem dividida em duas. Na parte de baixo, um desenho de um braço levantado. No outro, um desenho feito com pontos coloridos, sem contornos nítidos. O contraste entre os dois é grande. O quadro de cima, composto apenas por pontos de diversas cores, capta o movimento do braço que, abaixo, vemos congelado numa representação estanque. O gesto de levantar o braço reflete-se em pequenos pontos gráficos coloridos capazes de dar a ver, de algum modo, o movimento que o desenho linear deixa escapar.
No vídeo Já foi, já foi, também de 2011, o desenho não aparece explicitamente como técnica, mas está presente no rastro luminoso deixado pela explosão dos fogos de artifício. O trabalho, realizado de forma bastante simples, foi filmado durante a noite. As falas dos envolvidos, dos vizinhos e mesmo o barulho da rua, dão para aquilo que poderia ser um grande espetáculo – como normalmente são as queimas dos fogos de artifício – um caráter cotidiano. Alia-se a isso o fato de o artista optar por não filmar fogos coloridos, explodindo em estrelas, arcos e chuvas, mas manter a câmera baixa, na altura do pavio, e registrar apenas as explosões luminosas e o que elas permitem ver: a rua, os muros das casas, a calçada.
Os trabalhos que fazem parte da exposição “Lampejo”, embora falem de momentos impregnados de ação e decisão, não os elevam a uma posição de ato heróico, de gesto capaz de transformar. Tímidos, discretos ou mesmo difíceis de visualizar, eles figuram mais como uma coleção de imagens que rompem a estabilidade de um percurso sem contudo serem capazes de alterar seus rumos efetivamente.

 

LEANDRO COSTA – Lampejo
Leandro Costa produz um trabalho site-specific para o muro externo do Ateliê397, enquanto expõe pinturas e desenhos dentro do espaço expositivo.
Artista formado pela FAAP em 2002, realizou diversas exposições na Galeria Vermelho, participou do 33º Salão de Arte de Ribeirão Preto e de exposições na Galeria Invaliden1 (Alemanha) e Centro per l’arte contemporanea Luigi Pecci (Itália)