Escrição: da escrita-leitura a obra-texto

com o artista escritor Fabio Morais e Leonardo Araujo, escritor, crítico, curador e editor independente

INSCRIÇÕES PRORROGADAS ATÉ 18/08 – INÍCIO 25/08

Sinopse
A partir do som e do significado da palavra inscrição – ato de gravar ou constatar algo em determinada situação ou contexto – Escrição propõe-se alcançar o que existe de ação da escrita. Com “ação” não se quer dizer sobre o tempo “perdido” ou movimento realizado para produzir um texto, mas sobre a experiência da própria escrita como forma material, um fenômeno individual de inscrição no uso coletivo da linguagem.
Com aspectos específicos da escrita praticada, difundida e lida no campo das artes visuais, em Escrição serão abordados obras-textos que, ao invés de seguir modelos literários, seguem procedimentos da performance, da escultura, do site specific, da linguagem gráfica, da partitura, da arte conceitual, do minimalismo, do work in progress, do ready-made, imprimindo especificidades textuais na escrita de artistas e, possibilitando assim, leituras analíticas formais por parte dos leitores-observadores. O programa é uma mescla da explanação de um curso teórico, da prática de uma oficina e de leituras coletivas de proposições de exercícios que se baseiam na discussão e análise em grupo de obras, textos literários e teorias filosóficas contextualizadas, comentadas e destrinchadas pelos propositores ao longo do processo.

Descrição
Em Escrição, o foco será a escrita como matéria, em contraponto ao ideal de “transparência do texto” no qual sua concretude e seu processo desaparecem para que o assunto, ou mensagem, estejam em primeiro plano. Ao ser entendida como matéria a ser manipulada – onde o “assunto” é apenas mais um aspecto dessa matéria – a escrita ganha outros geradores além da vontade de expressão do autor colocada em prática por meio de certa virtuosidade ensaística ou literária. Assim, outros requisitos podem ser o início gerador do texto como, por exemplo, regras pré-estabelecidas, como no caso do OuLiPo, ou práticas performáticas que geram escrita, como no Fluxus e em artistas como Vito Acconci, Kenneth Goldsmith e Dora García.
No campo das artes visuais e também na literatura de viés mais experimental, materialidade, conceitualidade, apropriação e performatividade são aspectos que se entrelaçam e se contaminam. Em Escrição, eles serão abordados tanto de forma isolada quanto tramada, por meio da leitura em grupo de obras que exemplifiquem e esclareçam tais aspectos. As leituras e discussões, no curso, girarão em torno da arte conceitual setentista e seus desdobramentos no contemporâneo, em experimentações literárias conceituais, nos ideais complementares de “não-expressão” e apropriação, no modo como a ideia de performatividade resultou em textos gerados por ou para performance, mas também textos cuja escrita e leitura são uma performance em si. Essas leituras em conjunto terão como objetivo evidenciar que formas de escrita são geradas por todos esses contextos e ainda servir de estímulo para exercícios práticos.

Percurso Bibliográfico
Entre leituras sugeridas, artistas e autores lidos em grupo, a bibliografia de Escrição passará por teóricos como Giorgio Agamben, Vilém Flusser, Fernand Deligny, Deleuze, Roland Barthes e Foucault, de modo a perceber em seus textos a materialidade narrativa nos conceitos propostos. Na literatura, serão propostas obras específicas que relacionam-se conceitualmente com a forma, exemplos que vão da produção do grupo francês OuLiPo, com autores como Georges Perec e Raymond Queneau, a romances como Avalovara, de Osman Lins. Os preceitos conceituais de escrita serão vistos tanto em artistas históricos da arte conceitual – Victor Burgin, Lawrence Weiner, Yoko Ono, Douglas Huebler, George Brecht e Brian Eno’s entre outros – quanto na produção mais contemporânea, como em Claude Closky, Dora García, Kenneth Goldsmith e Sophie Calle. A ideia de performatividade, que também passa por esses artistas citados, será estudada na escrita de artistas da performance ou ação como Vito Acconci e Artur Barrio, mas também em artistas cuja performatividade se encontra dentro e com o texto, como Daniel Spoerri e Helio Oiticica. A apropriação, questão central da era digital, será discutida a partir de textos teóricos sobre a escrita não-criativa, de Kenneth Goldsmith e Craig Dworkin, e também de obras do próprio Goldsmith, Claude Closky, Douglas Huebler, entre outros.

Cronograma

18 e 25 de agosto
01, 08, 15, 22 e 29 de setembro
06, 13, 20 e 27 de outubro
03, 10, 17 e 24 de novembro
01 e 08 de dezembro de 2017

Programa

Parte I – Materialidade da escrita (1˚ Mês)
Apresentação geral do curso e delineamento do primeiro módulo. Na primeira parte, obras-textos de artistas como Art&Language, Jonathan Monk, Yoko Ono, Kenneth Goldsmith, Carl André e, no campo da literatura, o grupo OuLipo, serão abordadas a fim de discutir a materialidade da linguagem escrita em seus aspectos narrativos, tradutórios, gráficos e tridimensionais. Para isso, também se analisará coletivamente o conceito de Experimentum Linguae do filósofo italiano Giorgio Agamben e de Deserto do Real de Slavoj Zizek.

Parte II – Leitura Apropriativa (2˚ Mês)
Este módulo se dedicará às varias ideias de apropriação que podem gerar experimentações textuais: a prática ready-made para a escrita (em artistas como Kenneth Goldsmith, Marilá Dardot, Roy David Frankel, Dana Teen Lomax, etc), o alargamento da noção de apropriação por meio de práticas performativas que geram textos e ficções (Rosângela Rennó, Sophie Calle, Marcelo do Campo, entre outros) e a apropriação para fins de détournement (William Bourroughs, Claude Closky e outros). Também, nesse momento, se discutirá a prática artística-teórica de pesquisa e apropriação do artista Jorge Menna Barreto em seu texto Exercícios de Leitoria.

Parte III – Performatividade da Escrita (3˚ mês)
A possível performatividade que gera uma escrita conceitual (John Cage, Daniel Spoerri) e a performação tanto na feitura da obra (Flavio de Carvalho, Santiago Sierra, Douglas Huebler) quanto em sua recepção (instruções Fluxus, Yoko Ono, Vito Acconci) serão o fio condutor deste módulo que mapeará a escrita que resulta diretamente de práticas performativas.

Parte IV – Espacialidade do Texto (4˚ Mês)
Toda obra-texto trabalhada em Escrição é de natureza conceitual, pois algo externo a ela a codifica ou justifica sua existência. O que seria o espaço no texto? Algo mental ou gráfico? A arte conceitual, ao eleger a linguagem como espaço, em detrimento do espaço físico, lançou-se em experimentações conceito-espaciais abrangentes com a produção de artistas como Victor Burgin, Robert Barry, Lawrence Weiner, Brian Eno, George Brecht. Junto aos trabalhos desses artistas, se discutirá a negativa do conceito, escrita pela filósofo alemão Hans Blummenberg, A Teoria da Não Conceitualidade se coloca como contraponto, apresentando que a linguagem é antes o conceito maior do pensamento-escrita.

Informações gerais

Sextas-feiras, 19h – 22h30
Data de início: 18 de agosto
Data de término: 01 de dezembro
Vagas: 15

Inscrições

Os interessados poderão se inscrever preenchendo o formulário.
https://goo.gl/forms/7IFOAW74IeS0oMAi2

Pagamento

Serão 4 parcelas de R$300,00. O pagamento da primeira parcela garante a vaga no curso. O aluno poderá requisitar um boleto, fazer um depósito em conta-corrente ou pagar diretamente no Ateliê397, de quarta a sexta, das 14 às 19H. Não aceitamos cartões. As demais parcelas devem ser pagas no Ateliê397 até os dias 18/09, 20/10 e 18/11.

Sobre os professores

Leonardo Araujo é escritor, critico e curador de arte contemporânea e editor independente. Cursou parcialmente Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo e graduou-se em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes. Editou, junto ao grupo Beco da Arte, as publicações “Percursos Narrativos” (livro de artista de Rafael RG e Fabio Morais) e “Casa Contemporânea” (catálogo das três primeiras exposições do espaço). Realizou a curadoria da exposição “Noves_Fora” no espaço independente Beco da Arte de São Paulo, no qual trabalhou como por 3 anos conjuntamente com outros integrantes. Foi Assistente no Núcleo de Pesquisa e Crítica em História da Arte na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Co- editou a revista de crítica de arte paulista “Maré”, conjuntamente com outros críticos, sediada pelo espaço Ateliê 397. Participou do 15˚ Prêmio Cultura Inglesa, junto a outros 10 artistas, com o projeto expositivo “Unfreeze”. Desenvolveu os trabalhos: “A imagem do texto no texto da imagem”, pelo Sesi Arte Contemporânea Curitiba, realizado conjuntamente com o dramaturgo Gustavo Colombini; “Carta de Intenção”, no edital Artes Visuais do Proac, projeto de residência artística para experimentação textual, conjuntamente com outros pesquisadores; o projeto expositivo “Estruturas Possíveis: um diálogo crítico-criativo com o artista Bruno Baptistelli”, na Oficina Cultural Oswald de Andrade de São Paulo. Atualmente participa do Grupo de Estudos Práticos em Linguagem Experimental, em que desenvolveu o projeto “Gramatologia” na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Desenvolveu o projeto “Gravidade [espécies de espaços]”, realizado e concebido conjuntamente com o artista Daniel de Paula Mendes, na Colônia da Cratera, Parelheiros, São Paulo – SP (Proac) e participou da exposição “Lastro Em Campo” no Sesc Consolação, sobre a residência artística em comemoração de 10 anos do Lastro realizada no Panamá, Guatemala e México em 2015, em que acompanhou quatro artistas residentes e desenvolveu vídeos-ensaios como comentários críticos por meio da pesquisa “Bem Vindo Portunhol Selvagem”. Recentemente editou, junto ao antropólogo Alex Flyn, o livro “Claire Fontaine – em vista de uma prática ready-made” pela Editora GLAC, curou a exposição “próprio-impróprio” dos artistas Raphael Escobar e Frederico Filippi na Galeria Leme, e o programa para jovens artistas do Sesc Ribeirão Preto, 27˚ Mostra de Arte da Juventude, junto de Luiza Proença. Tem oferecido cursos sobre suas pesquisas em processos de experimento da linguagem com Gustavo Colombini no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc e outros espaços, os quais: “Isso,Texto – a escrita como campo experimental na linguagem”; “Para Uma Escrita Sem Lugar – a linguagem como ferramenta de experimentação de uma escrita sem nome”; e “Irresponsabilidade Literária – a leitura escreve a si mesma”.

Fabio Morais (São Paulo, 1975) é artista visual escritor, mestre em artes visuais pela UDESC. Sua mais recente exposição individual foi “Escritexpográfica” (Galeria Vermelho, São Paulo, 2017). Participou de exposições coletivas em instituições como  Bienal de São Paulo, MAM-SP, Centro Cultural São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, Museu Lasar Segal, Paço das Artes, SESC, Oficina Cultural Oswald de Andrade (São Paulo); MAC Niterói (Niterói); Centro Cultural Helio Oiticica, Museu da República (Rio de Janeiro); Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte); Bienal do Mercosul (Porto Alegre); Espaço Cultural Marco Antonio Vilaça (Brasília); MACBA (Barcelona); CGAC Centro Galego de Arte Contemporánea (Santiago de Compostela); Centro Cultural Inca Garcilaso (Lima); MAC Lyon (Lyon); CAC Brétigny (Brétigny sur Orge); Contemporary Jewish Museum (San Francisco); Astrup Fearnley Musset, The Stenersen Museum, Punkt Ø (Oslo); Bonniers Konsthall (Estocolmo); entre outras.
Em sua prática artística, atua entre o circuito expográfico e o editorial, no qual publicou os livros  “Sebo+Biblioteca” (Museu da Cidade, São Paulo, 2016), em co-autoria com Marilá Dardot, “Somático” (Kitschic Ediciones, Barcelona, 2017; Meli Melo Press e Edições Tijuana, São Paulo, 2016), “Rodapé” (par(ent)esis, Florianópolis, 2015); “Não” (Ikrek Edições, São Paulo, 2014); “Site Specific, um Romance”(par(ent)esis, Florianópolis, 2013); “Querido Diário” (Edições Tijuana, São Paulo, 2013); “A Teus Pés” (Edições Tijuana, São Paulo, 2012); “Fabio Catador” (Coletivo Dulcineia Catadora, São Paulo, 2011); ARTE E MUNDO APÓS A CRISE DAS UTOPIAS (par(ent)esis, Florianópolis, 2010) em co-autoria com Daniela Castro; “Diccionario para Road Movie” (Kitschic Ediciones, Barcelona, 2010); “O Performer” (edição do autor, São Paulo, 2009); “blá blá blá” (par(ent)esis; Florianópolis, 2009) e “Sebo” (CCBB, São Paulo, 2007), ambos em co-autoria com Marilá Dardot, com quem concebeu a “Klaxon Extra-Texto” (Cosac Naify e ICCo, São Paulo, 2013), revista que acompanha a edição fac-similar da Revista Klaxon. Ainda no campo editorial, publicou obras no Jornal Folha de São Paulo, Revista Bravo, Caderno video_brasil A Revista, Revista Select, Revista Refil, Revista Recibo, Revista Bólide, Revista Abrigo Portátil, Jornal de Borda, A Recreativa, entre outros periódicos. Traduziu para o português “Dar é Dar” (2015) e “Inventário de Destruições” (2014) de Éric Watier, publicados pela editora par(ent)esis, e o texto "Curadores Invisíveis" (2016), da dupla Claire Fontaine, publicado em "Claire Fontaine, em vista de uma prática ready-made", por GLAC Edições. Foi um dos criadores da revista experimental de tradução ¿Hay en Portugués?, com a qual ainda colabora, na qual publicou “Lina” (2014), múltiplo que acompanha o número 3 da revista. Em 2015 co-editou com Traplev a revista "Recibo 56: Brazil Distópico" e em 2016 editou a revista ¿Hay en Portugués? número 6, sobre texto e escrita em artes visuais.