Gentrificação, especulação imobiliária e arte

com Guilherme Boulos, Raphael Escobar e mediação de Thais Rivitti | Sábado 29 de julho | 14h30

A mesa “Gentrificação, especulação imobiliária e arte” vai tratar da ocupação do espaço urbano da cidade de São Paulo. Quem usa a cidade? Quem tem direito a ela? Que valores norteiam o planejamento urbano na atualidade?

Com apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo – via Proac

Pensar a cidade- sua paisagem, seus fluxos, suas possibilidades de uso – é também tarefa que vem sendo desempenhada por artistas e críticos de arte. Contudo, apesar das boas intenções e da consciência crítica que usualmente animam esse trabalho, é preciso reconhecer que os processos de “revitalização” urbana (como vem sendo chamados pelo poder público e pelas grandes corporações), muitas vezes, utilizam-se de uma certa ideia de cultura para sua legitimação. É em nome da cultura que se expulsam antigos moradores locais e que bairros populares transformam-se em bairros de elite, com a promessa da construção – que muitas vezes não sai do papel – de equipamentos culturais “de interesse de todos” como museus, teatros e auditórios. É esse o caso da região central de São Paulo, área próxima a Estação da Luz, que já foi conhecida boca do lixo e hoje é chamada de Cracolândia.

Também  é preciso lembrar como, historicamente, a presença de artistas e a configuração de um meio cultural pulsante em determinadas áreas foram capazes de valorizá-las e convertê-las em alvos privilegiados para a especulação imobiliária. Um exemplo paulistano talvez seja o bairro da Vila Madalena, onde o Ateliê397 estabeleceu-se por mais de dez anos, antes de mudar para a sua sede atual, na Pompéia.

Como todos aqueles que atuam no campo da arte, nas mais diversas posições – artistas, curadores, produtores, gestores públicos – podem se colocar diante desse uso equívoco da cultura? É possível evitar que as práticas artísticas e o trabalho desenvolvido a longo prazo por artistas, coletivos e espaços junto à comunidades locais sejam capturados pelo mercado? Para aprofundar essa conversa convidamos Guilherme Boulos, coordenador Nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que há anos defende a necessidade de uma reforma urbana ampla e urgente para São Paulo, para debater com Raphael Escobar, artista e membro do movimento “A Craco Resiste” com a mediação de Thais Rivitti, crítica de arte, curadora e gestora independente.

O projeto “Identidade, cultura e dominação”

Em 2017, a programação do Ateliê397 dedica-se a pensar de que forma o meio artístico brasileiro vem absorvendo as reivindicações políticas e demandas sociais do presente. Muito se fala sobre o constante tom político presente nas grandes exposições de arte – da atual Documenta de Kassel às últimas bienais de São Paulo – e na própria produção artística da atualidade. Observamos, em um curto período de tempo, as questões raciais e de gênero ganharem espaço e se apresentarem com protagonismo na programação cultural da cidade de São Paulo. Contudo, é necessário pensar se essa nova pauta das grandes mostras sediadas em importantes museus e centros culturais corresponde, de fato, a um alargamento da participação das ditas “minorias sociais” no campo da arte. Da mesma maneira, é necessário refletir se a produção artística – aqui compreendida não apenas como obras de arte, mas também como pensamento crítico – vem contribuindo com a construção de uma sociedade mais igualitária. Nesse sentido, caberia perguntar: há um trabalho mais profundo, de reelaboração histórica, sendo feito? Os artistas que colocam em cena conflitos latentes da sociedade brasileira estão realmente sendo ouvidos – ou aquilo que enunciam continua a não produzir sentidos coletivos? Que interesses mercadológicos entram em cena quando o discurso da diversidade cultural e da inclusão social torna-se slogans do marketing empresarial? Caberia perguntar, nesse momento, se há avanços palpáveis ou se tudo não passa de um movimento que transforma uma potência política em mercadoria, neutralizando até as práticas mais contundentes.

Exposição em cartaz

A exposição “À noite o mundo se divide em dois”, de Jaime Lauriano e Raphael Escobar, em cartaz no Ateliê397 até dia 7 de agosto, traz a um só tempo a uma reflexão sobre a construção da história brasileira, chamando a atenção para a naturalização da violência presente nos processos sociais que conformam essa sociedade e um estudo de caso do presente: a comunidade da cracolândia. Vemos o presente e o passado entrelaçados forçando-nos a nos perguntar sobre uma real mudança de mentalidade. “A cada 10 pessoas mortas no Brasil, sete são negras”, diz um dos trabalhos em exposição que recorta o dado estatístico do mais recente mapa da violência. “À noite o mundo se divide em dois” é um dos versos da música recentemente composta por um morador da cracolândia que também está presente na exposição. Nos dois casos, a segregação e a desigualdade aparecem como marcas definidoras da sociedade brasileira.  

Serviço:

Encontro “Gentrificação, especulação imobiliária e arte”

Sábado, dia 29 de julho às 14h30

+ informações:

Ateliê397 | Rua Professor Gonzaga Duque, 148 – Pompéia

2a a 6a feira, das 14 às 19H

Tel: 55 11 3865-2220

www.atelie397.com