Múltiplos 397 | edição 2010

 

Múltiplos397: o que não é simples e nem único… Como parte das novas atividades, sob direção de Thais Rivitti e Marcelo Amorim, o espaço na Rua Wisard 397 abre em julho o projeto Múltiplos397. Nessa primeira edição, foram convidados a participar; os artistas Laura Huzak Andreato, Fabio Flaks, Nazareno e Luiz Roque. A proposta é de, que cada colaborador, invista R$ 1600, adquirindo um conjunto de quatro múltiplos sendo; uma gravura, uma fotografia, e dois objetos (todos com tiragem de 40).

Com essa iniciativa, o Ateliê397 pretende, além de arrecadar fundos para continuidade dos demais projetos do espaço, estimular a produção de novas obras, o colecionismo como prática cultural, formar novos públicos e divulgar trabalhos de artistas contemporâneos.

Paralelo ao projeto Múltiplos397, os artistas convidados realizarão uma exposição em que apresentarão obras recentes (pintura, desenho, vídeo e instalação).

Ainda para este ano, o Atêlie397 tem em sua programação mais três exposições, o lançamento de um livro que retrata a programação e o funcionamento de outros espaços independentes de arte no Brasil (Edital Conexão Artes Visuais) e o projeto de site specific, já aprovado na Lei Rouanet, ocupando o famoso corredor da casa na Rua Wisard 397.

 


 

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Fabio Flaks

Amplificador, 2010
Gravura em metal
54 x 78cm – edição de 40

De volta aos amplificadores Marshall, como na série de desenhos recentemente apresentados no Centro Universitário Maria Antonia, Fabio Flaks faz agora uma incursão pela gravura. O amplificador, objeto associado ao universo pop do rock e dos grandes shows de música, aparece nesta obra como uma espécie de relíquia. A figura que vemos representada aqui se confunde com desenhos de objetos antigos, em almanaques e enciclopédias. Descontextualizado, apartado da cena que normalmente habita, o amplificador torna-se estranhamente poético e nostálgico, como se conservasse a memória das músicas que já passaram por ele. Não raras vezes, a poética de Flaks opera nesse sentido, seus trabalhos têm o poder de conferir àquilo que representam – até mesmo a objetos produzidos industrialmente e em série – uma presença distinta, inaudita.

 

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Laura Huzak Andreato

Depois de, depois de… 2010
Acrílico, lâmpada e instalação elétrica
16 x 36 x 5cm – edição de 40

A obra Depois de, depois de, depois de…, de Laura Huzak Andreato, consiste em uma caixa de acrílico preto – com um recorte irregular na parte frente – da qual sai uma luz vermelha. Quando a peça é fixada na parede, sugere a imagem do sol se pondo atrás de montanhas. Um pôr-do-sol eterno, portátil, ligado à tomada, pronto para ser levado para casa. Dos objetos utilitários – do universo do design e da decoração – a obra conserva os materiais sofisticados, o acabamento impecável e a lógica da reprodutibilidade. Na exposição, as peças figuram lado a lado, formando uma grande linha do horizonte. A seriação, procedimento minimalista por excelência, reforça a monótona passagem do tempo, contado por auroras e ocasos. Entre o alto design e o clichê das representações de pôr-do-sol, sobressai a ironia presente na tentativa de trazer a natureza para o ambiente doméstico.

 

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Luiz Roque

Das monster, 2010
Ampliação fotográfica a partir de filme positivo Super-8
25 x 45 cm – edição de 40

Os filmes de Luiz Roque sustentam uma posição de ambíguidade, entre a paródia e o elogio. Rodados em super-8, eles utilizam o repertório e a linguagem de filmes antigos, dos primórdios do cinema. A foto Das monster, feita pelo artista para o projeto no Ateliê 397, é um still de um desses filmes do artista, que leva o mesmo título. A foto mostra uma pessoa caminhando, rosto e corpo cobertos por um longo tecido, em meio a uma paisagem montanhosa e enevoada. Ao mesmo tempo em que há algo cômico nesse retrato do “monstro – fantasma” e na referência à paisagem sombria, tão recorrente nos filmes do expressionismo alemão, a foto não para de nos seduzir. Por mais fetichizados que esses elementos possam parecer (eles hoje claramente deixaram de ter um estatuto cult e se tornaram clichês da indústria cultural) há no trabalho algo poético que resiste.

 

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Nazareno

Silêncio por favor, 2010
Cristal, madeira e água
41,5 x 27 cm – edição de 40

A obra de Nazareno para o projeto Múltiplos 397 situa- se no limite da visibilidade. As quatro taças de cristal, colocadas sobre uma tábua de madeira, permanecem silenciosas, sem chamar atenção para si mesmas. Para acionar a obra, temos que tocá- la, literalmente. A ocupação do espaço não se faz apenas pela presença visual dos objetos, mas também pelo toque do espectador e pela propagação do som que deles emana. O trabalho acontece nesse trânsito: aparece, desaparece, converte-se em música, ocupa o espaço, convocando plenamente a sensibilidade do observador. A produção do artista, já bastante conhecida no meio, normalmente é associada a desenhos delicados, inspirados em contos de fadas, no universo infantil ou em situações cotidianas. São desenhos que tocam o vazio, mostrando associações inesperadas, gestos mínimos e frases curtas, porém carregadas de significado.

 


 

Fabio Flaks (1977) nasceu, vive e trabalha em São Paulo. É formado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Arquitetura e Urbanismo da USP (2000). Em 2009 defendeu a dissertação A representação do vazio no cotidiano tornando-se mestre em Artes Visuais pela Escola de Comunicação e Artes da USP(2009). Realizou recentemente a individual Rente no Centro Universitário Maria Antônia (2010), além de individuais na Galeria Virgílio (2006), no Centro Cultural São Paulo (2003) e na Galeria Adriana Penteado (2001). Entre as exposições coletivas que participou destacam-se Paisagem Bruta na Galeria Virgílio (2006) e a 9a Bienal Nacional de Santos (2004), onde obteve menção honrosa.

Laura Huzak Andreato (1978) nasceu, vive e trabalha em São Paulo. É bacharel em Artes Plásticas pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Sua última exposição individual Balneário aconteceu na Funarte de São Paulo em 2007, entre as duas exposições individuais e coletivas destacam-se: a Mostra Espaços Funarte Artes Visuais, São Paulo (2007); Mecanismos de Aferição no Centro Universitário Maria Antônia, São Paulo (2006), Planta Baixa na Rua Camaragibe 236, São Paulo (2005); entre outras. A artista foi selecionada para a residência no ateliê de gravura da Fundação Iberê Camargo (2006). Também produziu figurinos para peças de teatro e shows, entre eles Dança- eh-Sá (2006), de Tom Zé. Atualmente, ministra aulas de desenho no curso de arquitetura da Escola da Cidade.

Luiz Roque nasceu em Cachoeira do Sul (1979). Vive e trabalha em São Paulo.Usa filme, vídeo, fotografia e neon como meio. Seu trabalho tem sido mostrado individualmente em lugares como Paço das Artes (São Paulo, 2008) e Ateliê Subterrânea (Porto Alegre, 2009) e em coletivas como Abre Alas (A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2010) e Video Links Brazil (Tate Modern,Londres, 2007). Seu vídeo Projeto Vermelho recebeu o prêmio FIAT (2006) e foi exibido na 12a. Biennnial de L’image en Mouvement (CIC, Genebra, 2007). Em 2010 participa da mostra inaugural da Fundação Vera Chaves Barcellos, Silêncios & Sussurros (Viamão RS). Recebeu por duas vezes a bolsa Talent Campus (Universidade del Cine, Buenos Aires 2005 e Berlinale, Berlin, 2007).

Nazareno nasceu em Fortaleza, vive e trabalha em São Paulo. Formou- se em Artes Plásticas pela UNB (1998). Trabalha com instalações, objetos e desenho. Realizou recentemente uma mostra individual na Galeria Mariana Moura, em Recife. Entre as coletivas de que participou, destacam-se Jogos de Guerra no Memorial da América Latina em São Paulo (2010); Brasília síntese das artes no Centro cultural Banco do Brasil no Distrito Federal (2010); Geração da Virada – Os anos recentes da arte brasileira no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo (2006). Indicado para o Prêmio Marcantônio Vilaça (2006), também publicou o livro São As Coisas Que Você Não Vê Que Nos Separam (2004). Atualmente é representado pela galerias Mariana Moura (Recife), Paulo Darzé (Salvador) e Emma Thomas (São Paulo).