Foto: Laura Andreato

Laura Andreato: Como Pintar Picos Nevados

A técnica do pintor

“Como Pintar Picos Nevados”, de Laura Huzak Andreato, é uma exposição que mostra o percurso da artista aprendendo a pintar algo bastante específico. No gênero da paisagem, dentro do tema clássico da montanha, Laura aprendeu a pintar picos nevados. Sim, picos nevados. Como a cordilheira dos Andes, os Alpes suíços, o Himalaia. Como uma foto de calendário, a proteção de tela do computador ou um rótulo de água mineral. Como as pinturas de natureza morta, de incêndio em floresta, marinhas e outros tantos temas que parecem já ter se descolado de seus referentes, digamos, “naturais” e que se tornaram lugares comuns na pintura. A imagem de uma imagem, cujo “original” já não se pode alcançar.

Para a artista, não interessava a observação das montanhas. Durante oito meses, ela se dedicou a pesquisar como se ensina a pintar e também como se aprende. Um pouco como quem aprende a escrever o próprio nome sem ser propriamente alfabetizado. Copia-se o desenho das letras sem dominar o princípio que conecta uma a outra: o alfabeto, as sílabas, a formação da palavra. Mas, tal como uma frase pode conter em si toda a estrutura de uma língua, de certa forma, a artista aprendeu a pintar. Pintar como não se deve pintar mais – desde, pelo menos, a arte moderna. Aprendeu a pintar como antigamente se fazia, como agora não se faz mais e como talvez seja interessante voltar a fazer.

O que significa aprender uma técnica? Sabemos que uma técnica não é apenas uma ferramenta neutra. Ela carrega um repertório limitado de possibilidades, tem uma história, uma filiação, em última análise, uma ideologia. Durante anos, aprendemos a ver nas pinturas figurativas, que representavam um objeto, pessoa ou paisagem, algo conservador. A arte, se é que é possível falar em termos tão genéricos, levou anos para se desvencilhar de seu compromisso com a verossimilhança. As 25 telas apresentadas pela artista são, se quisermos, o processo contrário, o caminho inverso ao que a arte tomou desde o início do século passado. Ao reabilitar essa técnica de pintura rudimentar, instrumental e pouco imaginativa – que encontra-se restrita a pintores amadores, donas de casa entediadas, artesãos sem criatividade – a artista traz de volta para a discussão uma série de questões recalcadas na modernidade.

Thais Rivitti

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