Bem além de Beuys

Por Paula Borghi.

Ilustração: Projeto para Tentativa de evocar a alma de Joseph Beuys, 2009, Guilherme Peters

 

A exposição “Beuys e bem além – Ensinar como arte”  parte da proposta de criar uma exposição itinerante com obras da Coleção Deutsche Bank, e ao mesmo tempo distinta conforme a cidade em que se encontra, apresentando-se em seis museus latino-americanos e em cinco países deste continente.  Entre as obras de Beuys e seus alunos, a cada exposição um artista reconhecido tanto por sua obra quanto por sua influência enquanto professor é convidado a participar da mostra com seus mais destacados alunos, segundo a curadoria.

Em São Paulo, a mostra foi apresentada no Instituto Tomie Othake, com obras de Beuys e de  seis de seus mais “destacados” alunos: Lothar Baumgarten, Imi Knoebel, Jörg Immendorff, Blinky Palermo, Katharina Sieverding e Norbert Tadeuz. Ao mesmo tempo, são apresentadas obras do artista e professor brasileiro Nelson Leirner, junto a obras de sete ex-alunos seus: Caetano de Almeida, Leda Catunda,Dora Longo Bahia, Iran do Espírito Santo, Sergio Romagnolo, Edgard de Souza e Laura Vinci.

Enquanto o aspecto itinerante do projeto, a mostra apresenta um recorte coerente que exibe – mesmo que de maneira sintética e superficial – a ideia de “ensinar como arte”. Contudo, a mostra não segue o eixo ideológico do “ensino social” idealizado por Beuys, visto que o artista educador convidado Nelson Leiner  lecionava em uma universidade privada (Fundação Armando Alvares Penteado – FAAP) que seleciona seus alunos a partir de um vestibular.

Conforme a própria curadoria do projeto, “Beuys colocou em xeque as convenções acadêmicas de seu tempo, fundadas na hierarquia, declarando que qualquer um poderia matricular-se em suas aulas de arte, sem nenhum portfólio como pré-requisito, sendo então demitido da Academia com grande alarde e repercussão.  Exaltou o engajamento direto da arte à vida, promovendo o ativismo político, frequentando ao mesmo tempo aulas de desenho.” Sendo assim, seria a melhor escolha para esta mostra convidar um artista educador de uma universidade privada?

Por outro lado temos a Universidade Pública de São Paulo (USP) com um dos vestibulares mais concorridos do Brasil, oferecendo uma média de 30 vagas por ano para o curso de artes visuais, visto que São Paulo tem a quarta maior aglomeração urbana do mundo. Portanto me pergunto, qual seria o artista educador ideal a ser convidado para esta mostra? De uma universidade pública ou privada? Seria este acadêmico? Ou um grupo de estudo?

Hoje os grupos de estudo vem influenciando e  atuando diretamente na formação de um jovem artista. Em São Paulo, por exemplo, existem muitos grupos de estudos, mas três em particular se destacam: o Ateliê Fidalga (coordenado pela artista Sandra Cinto e o artista Albano Afonso), o Ateliê do Centro (coordenado pelo artista Rubens do Espírito Santo) e o grupo de estudo coordenado pela artista Dora longo Bahia. Contudo, para participar deste grupos dos estudos também há uma espécie de “convite” ou mensalidade. Por exemplo, o Ateliê Fidalga oferece um acompanhamento pago, e mesmo assim tem uma demanda de artistas que vai além do número de vagas podem oferecer. Ou por exemplo o grupo de estudos da Dora, que não cobra mensalidade, porém parte de uma seleção pessoal da artista com seus convidados.

Parece-me que este tipo de estrutura vem cada vez mais tomando força e se aproximando de um “estudo social” quando comparada com a academia. Deste modo, não quero dizer que estes grupos de estudos compartilhem das ideias de Beuys, pelo contrário, creio que cada grupo se idealiza conforme suas particularidades de seus “orientadores”.

Assim, a mostra nos faz repensar não só na influencia de um professor na formação de um jovem artista, como também nas múltiplas problemáticas do ensino. Desta forma, me pergunto: Será possível fazer um paralelo entre o “ensino social” de Beuys com algum artista educador brasileiro?