A 4 graus do equador

A mostra “A 4 graus do equador” surge como uma proposta do Ateliê397 em adensar o debate sobre a arte contemporânea ampliando a circulação da produção artística nacional. A 4° do equador está o Ceará e, para além de uma mera indicação geográfica, o título remete também ao alargamento de fronteiras assumido pela arte e ao seu trânsito não restritivo a um campo cerrado por limites rígidos.
A escolha por reunir artistas cearenses não é por acaso. Diante da profusão de discursos mecanicistas sobre o acelerado processo de institucionalização da arte, a voracidade com que o mercado atua e sua crescente internacionalização, investigar sobre o cenário artístico de Fortaleza acaba por problematizar um debate um tanto normatizado e programado. Afinal, quais são os termos possíveis para pensar uma produção não pautada por uma ideia de circuito protocolado? De que maneira a ausência de instituições de arte sólidas, capazes de fomentar a reflexão crítica, a produção e agenciar sua circulação, desautoriza a discussão?
Por certo, a debilidade de uma tradição não a impede de eventualmente formar parte forte de uma grande obra.
E é apostando nesse argumento que se constata, mesmo no mais desarticulado dos contextos artísticos, a existência de trabalhos potentes. Disso não há dúvida. A questão que se coloca está em como o isolamento torna-se permissivo à possibilidade de formar algo, de criar conjuntos, agrupamentos, de viabilizar o surgimento de um corpo coeso de pessoas, ideias, ações, relações, diálogos.
Talvez essas sejam questões pertinentes a contextos artísticos de diferentes localidades do país. Embora não haja a intenção em levar Fortaleza a ocupar uma posição de exemplaridade, surge o interesse em centrar a discussão sobre uma produção que parece não se deixar render à dispersão de um contexto rarefeito. E é da investigação, da observação atenta sobre os trabalhos que permite uma compreensão sobre o modo como estão articulados a influências advindas daquele determinado contexto sócio-político e cultural constituído num tempo e espaço histórico por excelência.
São trabalhos que parecem estabelecer uma relação critica com aquele lugar não pela via de um embate direto e imediato, mas por meio de uma sutil desnaturalização de determinados aspectos que a todo instante insistem em pautar uma discussão refratada a desviar a atenção sobre o próprio objeto de arte.